Os papagaios na poesia trovadoresca
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A pergunta foi feita no estrangeiro. Notáveis intérpretes, como Gabriel Rosseti, Eugène Aroux, Denis de Rougement, Otto Rahn e muitos outros estabeleceram, maneira decisiva, a ligação da poesia medieval do Sul de França com os cátaros e com os Templários. Esqueceram, como em geral sempre acontece até com assuntos em que Portugal desempenha um papel dominante, a nossa poesia medieval. Não puderam, por isso, observar o facto importantíssimo, até para defesa da tese que sustentaram, que, vinte anos depois da cruzada católica contra os albigenses, que silenciou para sempre, no Sul de França a voz dos trovadores, foi posta em movimento a corrente dos poetas galegos e portugueses, durante cem anos activa até à queda dos Templários.
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Temos aqui um exemplo de até onde chega a pomposa «ciência da literatura» dos nossos contemporâneos. Porque, evidentemente, tudo isto é falso. De resto, no estrangeiro, já ninguém cai neste logro, no estrangeiro tantas vezes chamado a justificar a resistência que se deve oferecer ao nosso tradicional atraso.
A verdade é que só por acidente a poesia trovadoresca pertence à esfera literária. Na repetição incessante dos temas e das palavras deve ver-se o sinal de que há por detrás dessa poesia uma «experiência» que se impõe a tudo o mais, uma «experiência» por assim dizer central, à volta da qual giram obsessivamente temas, palavras e imagens.
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Entre as aves que falam, os papagaios parecem ter um lugar predominante na poesia trovadoresca. terá sido, com o galo, o pássaro iniciático por excelência.
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Excerto da obra: História Secreta de Portugal, António Telmo, 1977.