«Sintra Romântica, ou Morte!»
«Sintra entrara num ciclo eleitoral, cuja questão mais polémica girava em torno do método a aplicar nas demolições dos horrendos edifícios que a Modernidade legara à romântica vila. O poderosíssimo Partido Vegetariano defendia uma desmontagem peça a peça para evitar a poluição causada pelas implosões puras, como pretendia uma boa parte da oposição. Propunha, além disso, que os mesmos edificíos fossem reconstruídos no Parque Holográfico da Modernidade em Mem-Martins, onde não faltariam também pistas simulando as auto-estradas de então, com inúmeras possibilidades reais de acidentes mortais para todos os saudosistas. Tendo como base de apoio os agricultures cibernéticos da chamada Primeira Cintura Biológica, a qual correspondia à maior densidade de granjas e conventos medievais reconstituídos da Celtibéria, o Partido Vegetariano recolhia também vastos apoios no interior de outros partidos, movimentos e igrejas, como o Partido dos Artistas, o Clube das Bruxas, o Partido Imperial Saloio, a Academia Romântica, e até junto do Partido do Sétimo Selo. O núcleo duro da oposição era constituído pelo Partido dos Antigos Partidos, defensor dos valores antigos da Modernidade e pelo pequeno mais activo Partido dos Cabeça de Pedra. O Partido da Independência e o Partido Imperial Saloio funcionavam como o fiel da balança institucional, apoiando quase sempre o Partido Vegetariano nas suas decisões, mas garantindo igualmente os direitos da oposição, com a qual, pontualmente, não receavam convergir. Estes dois partidos eram os herdeiros e os guardiães do espírito da independência do Movimento Radical Romântico que há muitos anos conduzira ao famoso pronunciamento da Peninha: «Sintra Romântica, ou Morte!»
Este primeiro século de independência levara a mítica Vila a um desenvolvimento esplendoroso. A extraordinária revolução da destruição dos subúrbios e a subsequente conversão agrícola das terras mais ricas do jovem estado, a criação da famosa Primeira Cintura Biológica, o desenvolvimento de milhares de caminhos vicinais numa rede de vias de comunicação não poluentes, a abertura de inúmeros quiosques de comunicações globais que cobriam o vasto território do Império Saloio, que confinava a Norte com a Ericeira e a Sul com Cascais, a aplicação do princípio da circulação permanente a uma eficiente e exemplar rede de transportes públicos, toda essa fantástica infra-estrutura que oferecia aos orgulhosos Sintrenses algo que excedia todas as qualificações conhecidas como qualidade de vida, constituía a base sólida da criação de riqueza nacional: a mais variada e rica produção hortícola da Casa da Europa e a mais frenética e avançada indústria cibernética de comunicações globais.»
In Novelos de Sintra, Jorge Telles de Menezes